segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Um Pierrot apaixonado...

(pequenos trechos que marcaram a minha vida, vale a pena a leitura completa - http://www.jornaldepoesia.jor.br/mpicchia04p.html)



MÁSCARAS –Menotti Del Picchia (1892-1961)

PERSONAGENS
Arlequim : Um desejo
Pierrot : Um Sonho
Colombina: A Mulher

Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.
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ARLEQUIM
Como as espigas...
Como os raios de sol e as moedas antigas...Notei-lhe, sob o luar, a cabeleira crespa, anca em forma de lira e a cintura de vespa, um cravo no listão que o seio lhe bifurca, pezinhos de mousmé, olhos grandes, de turca... A boca, onde o sorriso era como uma abelha, recendia tal qual uma rosa vermelha.
ARLEQUIM - O beijo da mulher! Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar, como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver um corpo fremir tal qual uma bandurra...Desfalecer ouvindo a música que canta no gemido de amor que morre na garganta...Colar o lábio ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo...ir aos poucos subindo...até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar na síncope de um beijo!
A mulher? É verdade...
Levou naquele beijo a minha mocidade

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PIERROT   -   É tão doce sonhar!... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim , misticismo tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....
ARLEQUIM - Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um Pierrot muito branco...”
A história de um Pierrot sempre nisso consiste... Começa.
PIERROT narrando: “Era uma vez... um Pierrot... muito triste... “
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ARLEQUIM - E beijaste-lhe a boca.
PIERROT, cismarento: Não...Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios, esse beijo que morre assim como um gemido, sem ter a sensação brutal de ser colhido...
ARLEQUIM, tristonho: Essa história, Pierrot, é um pouco merencória...
PIERROT -  A história desse olhar é toda a minha história.
ARLEQUIM - E não a viste mais?
PIERROT - Nem sei mesmo se existe...

ARLEQUIM, contendo o riso: É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!
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COLOMBINA, hesitante:
A Pierrot: Eu amo-te , Pierrot...
A Arlequim: ... Desejo-te, Arlequim...
ARLEQUIM, soturnamente: A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois... e dois amam só uma!..
COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão: Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:
A Arlequim: O teu beijo é tão quente...
A Pierrot: O teu sonho é tão manso...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,
porque a história do amor pode escrever-se assim:
PIERROT
Um sonho de Pierrot...
ARLEQUIM
E um beijo de Arlequim!
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Acho que meu pai era parcial na sua leitura, tendendo a defender Pierrot, também eu sempre 
torci por ele.

A saber: Esse poema foi escrito em 1920, transcrevo notícia de um jornal em 1917



"Itapira, interior paulista, 1917. Jovem de 25 anos publica livro que já reúne traços do nacionalismo que o Movimento Modernista consagraria anos mais tarde.
Autor: o paulistano Menotti del Picchia, nascido em 20 de março de 1892. Obra:Juca Mulato. Poema regionalista, conta a história de um caboclo que se apaixona pela filha do fazendeiro.
São Paulo, capital do Estado, 1922. Menotti é um dos articuladores da Semana de Arte Moderna. Militante da estética modernista, ao lado de Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, cria o grupo Verde-Amarelo. Vertente conservadora do Movimento Modernista, criticava o “nacionalismo afrancesado” de Oswald de Andrade. Propunha a recusa às influências estrangeiras e a busca de uma literatura que expressasse a realidade e a essência brasileiras: um nacionalismo primitivista, ufanista, mítico, cheio de apelos e exaltações à natureza e à “raça” brasileira.
Poeta de prestígio, escreveu também romances, literatura infanto-juvenil, contos, crônicas, novelas, ensaios, peças, estudos políticos. Mas, escreveu Manuel Bandeira: nenhum dos seus livros modernistas superou o êxito de Juca Mulato, onde o poeta se apresenta em sua feição mais genuína. A obra vendeu mais de 40 milhões de exemplares no Brasil, Alemanha, Itália, Espanha, França e Polônia.
Em 96 anos de vida, Menotti del Picchia recebeu inúmeras homenagens, prêmios e foi proclamado Príncipe dos Poetas Brasileiros". (http://mnegocio.blog.uol.com.br/arch2010-03-14_2010-03-20.html)




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